COVID-19: Considerações gerais sobre a doença e principais alterações no hemograma.

A COVID-19 é uma doença respiratória que pode ser transmitida de pessoa a pessoa. Ela é causada por um vírus, o SARS-CoV-2, o qual foi inicialmente identificado durante a investigação de um surto de pneumonia ocorrido em Wuhan, na China 1.

Esse vírus é transmitido principalmente entre pessoas que estão em contato muito próximo, por meio de gotículas respiratórias produzidas quando uma pessoa infectada tosse ou espirra. A transmissão também pode ocorrer quando um indivíduo tem contato com um objeto que contenha o vírus em sua superfície e, posteriormente, toque sua própria boca, nariz ou olhos. Contudo, essa última não é a principal forma de transmissão 1.

Surtos anteriores de coronaviroses (CoVs) incluem a Síndrome Respiratória Aguda Severa SARS-CoV e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio MERS-CoV, que foram caracterizadas como agentes de grande ameaça à saúde pública2.

Após a identificação e isolamento do vírus, o mesmo foi chamado de 2019 novel coronavirus (2019-nCoV). O nome foi posteriormente alterado para Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 (SARS-CoV-2). Na primeira quinzena do mês de março, a doença foi classificada como uma pandemia (Figura 1)3.

Figura 1: Nomenclatura e situação epidemiológica da COVID-19 nos primeiros meses de 2020. Em 12 de Janeiro de 2020, a World Health Organization (WHO) nomeou o novo vírus como 2019-nCoV. Em fevereiro, o mesmo órgão anunciou que a epidemia de 2019-nCoV era uma emergência de saúde pública de interesse internacional. Ainda em fevereiro, no dia 11, a WHO alterou o nome da doença desencadeada pelo 2019-nCoV como coronavirus disease 2019 (COVID-19). No mesmo dia, o grupo de estudo de coronavírus da International Committee on Taxonomy of Viruses nomeou o 2019-nCoV como Coronavírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave 2 (SARS-CoV-2)4. Com base nos níveis alarmantes de espalhamento e severidade da doença, a WHO caracterizou a situação da COVID-19 como uma pandemia5.

Origem

Um mercado local onde são vendidos frutos do mar e animais selvagens em Wuhan, na China, foi visitado por muitos indivíduos do grupo inicial de infectados pelo vírus. Acredita-se que a exposição zoonótica tenha sido a fonte inicial de transmissão. Mesmo após o fechamento de mercados desse tipo, o número de casos continuou aumentando pela China e vários casos de transmissão familiar foram relatados6.

Incidência no mundo

Segundo a World Health Organization (WHO), em seu documento sobre a situação da COVID-19 de número 657, publicado em 25 de março de 2020, o número de casos confirmados da doença continua a aumentar. Na data em questão, foram relatados 414.179 casos confirmados em todo mundo, com 18.440 mortes. A Figura 2 mostra a incidência da doença em todos os países com casos confirmados.

Incidência no Brasil

Atualmente, tem-se registrado um aumento de casos confirmados e de mortes por COVID-19 no Brasil, como mostrado na Figura 3. Embora todas as regiões do Brasil tenham registro de casos de COVID-19, algumas apresentam porcentagem mais elevada que outras, como é o caso da Região Sudeste, que relatou 57,9% dos casos confirmados (Figura 4).

É importante ressaltar que, com a chegada do outono e do inverno, os indivíduos tendem a se concentrar em locais fechados e com pouca circulação de ar. Isso favorece a transmissão de vírus respiratórios de importância clínica. Desse modo, recomenda-se adotar medidas de prevenção, com o intuito de diminuir os casos de coinfecção e, consequentemente, reduzir o número de casos graves e óbitos15.

Morfologia do vírus e interação com as células do hospedeiro

O Coronavírus SARS-CoV-2 é um vírus envelopado, com RNA de fita simples positiva e pertence à família Coronaviridae. Os vírus dessa família possuem uma morfologia esférica, além de espículas em sua superfície. Tais características dão ao vírus uma aparência de coroa real quando visto em microscopia eletrônica. Dessa forma, a partir da palavra latina corona, que significa coroa em português, o vírus recebeu a denominação de Coronavírus16,17.

A estrutura viral é formada principalmente de proteínas estruturais, como as espículas, as quais são denominadas proteínas S (Spike). Essa é a proteína viral que permite a entrada do vírus na célula do hospedeiro. O tropismo tecidual do SARS-CoV-2 é determinado pela interação da proteína S com o receptor ACE2 (Angiotensin-converting enzyme 2), o qual está presente em algumas células do sistema respiratório de humanos, e é também o receptor para o coronavírus SARS (SARS-Cov)18,19

Sintomatologia

Os sintomas da COVID-19 aparecem após o período de incubação de aproximadamente 5,2 dias, sendo os mais comuns: febre, fadiga, sintomas respiratórios, incluindo tosse, dor de garganta e falta de ar. Sintomas intestinais, por sua vez, são raramente relatados. Alguns pacientes desenvolvem linfopenia e pneumonia2,21.

Resposta Imunológica

Prompetchara e colaboradores sugeriram um modelo de resposta imunológica ao SARS-CoV-19. A captação do vírus pelo organismo leva à infecção de células que expressam o receptor ACE2, como os alvéolos tipo 2 ou outras células alvo ainda não identificadas. Existe a hipótese de que os vírus diminuam as respostas antivirais de IFN-I em uma replicação viral descontrolada. O influxo de neutrófilos e monócitos/macrófagos tem como resultado a produção elevada de citocinas pró-inflamatórias. Linfócitos Th1/Th17 podem ser ativados e contribuir para respostas inflamatórias exacerbadas. Linfócitos B e plasmócitos, por sua vez, produzem anticorpos específicos para o vírus, os quais podem neutralizá-lo.

Características Clínicas e Hemograma

Características clínicas de indivíduos com COVID-19 sugerem o envolvimento de uma condição pró-inflamatória na progressão e severidade da doença 21. Essa hipótese se baseia em alterações de alguns parâmetros laboratoriais, incluindo elevação do nível de citocinas séricas, quimiocinas e aumento do índice NLR, que mede a relação da quantidade de neutrófilos (células que produzem as citocinas pró-inflamatórias) para linfócitos (células produtoras de anticorpos que protegem o organismo contra o vírus) em pacientes infectados, e esses resultados foram correlacionados com a severidade da doença, sugerindo uma contribuição das respostas hiperinflamatórias na patogênese da doença22.

Além dos valores aumentados de neutrófilos e diminuídos de linfócitos, alguns estudos relataram também presença de leucopenia e leucocitose em alguns indivíduos 2,22–25.

Casos de Doença pelo Coronavírus 2019 (COVID-19)

Foram definidos alguns parâmetros para a classificação de casos confirmados, suspeitos e descartados de COVID-19, os quais estão exemplificados na Figura 10 15.

Vanessa Milagres

Biomédica

Analista Científica de Produtos – Diagno

Mestre em Análises Clínicas e Toxicológicas – UFMG

Referências Bibliográficas

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  10. M.S., Ministério da Saúde. Coronavírus: 6 mortes e 621 casos confirmados. (2020).
  11. M.S., Ministério da Saúde. Coronavírus: 18 mortes e 1.128 casos confirmados. (2020).
  12. M.S., Ministério da Saúde. Coronavírus: 25 mortes e 1.546 casos confirmados. (2020).
  13. M.S., Ministério da Saúde. Coronavírus: 34 mortes e 1.891 casos confirmados. (2020).
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