Leucemia: Características, Classificação e Importância do hemograma no diagnóstico.

A leucemia é um grupo de doenças caracterizadas pelo acúmulo e proliferação de células neoplásicas na medula óssea, com consequente substituição de células normais. No Brasil, são estimados 10.810 novos casos em 2020. As leucemias são classificadas em quatro grupos, os quais possuem características diferentes quanto à sintomatologia e contagem celular sanguínea, por exemplo. O hemograma é um dos principais exames solicitados após a suspeita de quadro de leucemia. Esse exame é de grande importância, já que é capaz de identificar várias alterações sanguíneas características das leucemias.

A leucemia é um grupo de neoplasias malignas que afeta células sanguíneas, mais especificamente glóbulos brancos, os quais são chamados também de leucócitos. É caracterizada pelo acúmulo e proliferação de células alteradas (neoplásicas) na medula óssea. Consequentemente, células sanguíneas normais serão substituídas por essas últimas, podendo ocorrer, posteriormente, invasão de células neoplásicas no sangue periférico 1–3.

A medula óssea é um tecido esponjoso encontrado principalmente na porção oca de ossos longos e planos, como esterno e os ossos dos quadris. É nesse local que são produzidas todas as células sanguíneas. Essa produção é dependente do funcionamento das células-tronco pluripotentes, as quais possuem, a partir da influência de fatores teciduais e hormonais, a habilidade de se dividirem e se diferenciarem em outros tipos celulares, em um processo denominado hematopoiese. Nesse processo, são formadas as células-tronco mieloides, as quais darão origem aos eritrócitos, plaquetas, eosinófilos, neutrófilos, basófilos e monócitos. São formadas também as células-tronco linfoides, que, por sua vez, darão origem aos linfócitos (Figura 1)45

Uma vez que existe a proliferação de células alteradas na medula óssea, existe, então, uma diminuição na produção de células normais. Consequentemente, algumas funções do organismo se tornam comprometidas, o que proporciona o surgimento de alguns sintomas comuns entre os tipos de leucemia. A fadiga, por exemplo, é um sintoma que aparece devido ao quadro de anemia, uma vez que ocorre uma redução na produção de hemácias no indivíduo. A partir disso, a capacidade de transporte de oxigênio no sangue é comprometida, gerando fraqueza excessiva. Outro sintoma comumente associado às leucemias é a febre, já que o indivíduo fica mais susceptível a adquirir infecções, devido a uma diminuição da produção de neutrófilos.

O número de células neoplásicas, as quais não exercem as mesmas funções que as células normais, cresce rapidamente com consequente agravamento da doença em um curto intervalo de tempo.

Leucemia Linfoide Aguda (LLA)

  • Afeta as células linfoides;
  • Agrava-se de maneira rápida;
  • Mais comum em crianças (mas também pode ocorrer em adultos);
  • Representa aproximadamente 85% dos casos de leucemia em crianças;
  • Entre as principais causas estão os efeitos da irradiação, fatores genéticos, vírus, etc.;
  • Principais manifestações clínicas: febre, anemia, fadiga, dor óssea anorexia e sangramento.

Leucemia Mieloide Aguda (LMA)

  • Afeta células Mieloides,
  • Avança rapidamente;
  • Ocorre em adultos e crianças (a incidência aumenta com o aumento da idade);
  • Representa aproximadamente 20% das leucemias da infância;
  • Manifestações Clínicas: semelhantes à LLA. Contudo os problemas com sangramento são mais frequentes.
  • Ainda não existe uma definição de quais são as causas da leucemia. Contudo, é suspeito que essas causas estejam relacionadas à associação de diferentes fatores3. Sabe-se que o estado cancerígeno da leucemia se inicia quando o DNA de uma ou mais células brancas é danificado ou sofre mutação. Danos no DNA resultam na ativação de oncogenes (genes promotores de câncer) e desativação de genes supressores de tumores. O DNA anormal é copiado e passado por várias gerações celulares, que, ao invés de amadurecer e morrer, tendem a se multiplicar e se acumular no corpo causando complicações relacionadas à leucemia. O dano ao DNA pode ser causado por uma combinação de fatores, desde suscetibilidade genética a exposições ambientais. Alguns desses fatores estão representados na Tabela 2.

    Tabela 2 – Fatores de Risco para o Desenvolvimento de Leucemia

    Idade A maioria das pessoas com leucemia possuem idade maior que 60 anos, sendo a LMA e a LLC as mais comuns em adultos. Em crianças, por sua vez, a LLA é mais comum.
    Exposição Química ao Benzeno O risco aumenta entre indivíduos que sofrem exposição crônica a substâncias químicas perigosas, como o benzeno. A maior parte do benzeno presente no ambiente é proveniente de produtos relacionados ao petróleo. Associação com LMC, LMA e LLA;
    Radiação Ionizante Terapias utilizadas para tratamento de câncer (radioterapia). Associação com LMA, LMC e LLA.
    Tabagismo Vários casos de leucemia reportados são de fumantes. Associação com LMA.
    Viroses O vírus humano HTLV-I causa leucemia linfocítica aguda.

    Além disso, outros tipos de leucemia têm sido relatados em trabalhadores que são expostos a viroses animais.

    Genética O risco de leucemia aumenta em 15 vezes entre crianças com síndrome de Down.

    Outras doenças hereditárias também estão associadas a alto risco de desenvolvimento de leucemia. Associação com LMA.

    Fonte: (LLC, 2012 ; INCA, 2020).

As alterações esperadas no hemograma de um indivíduo com leucemia são contagens altas ou baixas de leucócitos, neutropenia, anemia e plaquetopenia. Além disso, são encontradas células leucêmicas no sangue, com diminuição da contagem de células normais. A partir disso, deverão ser realizados exames confirmatórios, como hematoscopia, imunofenotipagem de sangue periférico, mielograma, imunofenotipagem e citogenética de medula óssea, FISH e PCR13.

Após a confirmação do diagnóstico de leucemia, ocorre a classificação quanto ao tipo de câncer que foi identificado e correlação com a idade e contagem de leucócitos para a definição do tratamento mais adequado.

Referências Bibliográficas

  1. Lockwood W. Leukemia: AML, CML, ALL and CLL. 2019;(Cml). www.rn.org.
  2. UNICAMP. Leucemias e Linfomas. 2002;(Llc):23-27.
  3. INCA IN do C. Leucemia. https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/leucemia. Published 2020. Accessed February 12, 2020.
  4. Mclarnon A. Bone Marrow. 2006;6(2).
  5. mds foundation TMSF. What does my bone marrow do? 2012.
  6. LLC L& LS. Understanding Leukemia. 2012.

Vanessa Gonçalves Milagres
Mestre em Análises Clínicas e Toxicológicas – UFMG
Analista Científica de Produtos – Diagno.