Em fevereiro é feito a campanha em combate a leucemia, denominada fevereiro laranja. Uma doença que quando diagnosticada cedo tem grande chance de um prognóstico duradouro, ou de até mesmo a total remissão em caso de transplante de medula. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), estima-se 5.940 novos casos de leucemia em homens e 4.860 em mulheres para 2019. Esses valores correspondem a um risco estimado de 5,75 novos casos a cada 100 mil homens e 4,56 para cada 100 mil mulheres, ocupando a 9ª e a 10ª posições na estatística.
A leucemia é uma doença que atinge os glóbulos brancos podendo ser causada por mutações genéticas ou não. Sua principal característica é o acúmulo de células doentes na medula óssea, que substituem as células sanguíneas normais. Na medula óssea ocorre o processo de hematopoese, que é a diferenciação, maturação e produção das células sanguíneas. Todas as células circulantes no sangue são descendentes das células tronco, correspondendo a menos de 0,01% das células nucleadas da medula óssea. As células troncos são células indiferenciadas, sem função, que pode se desenvolver em células sanguíneas. A mesma tem uma capacidade única de auto renovação e um grande potencial de crescimento e diferenciação em linhagens linfoide e mieloide (granulocítica, monocítica, eritroide e megacariocítica).
As células troncos sofrem um estimulo específico, se dividem e geram as células progenitoras adquirindo características de apenas uma linhagem. Elas vão se proliferando e diferenciando em células precursoras morfologicamente bem definidas que se tornam maduras e desenvolvem funções específicas, que param de se proliferar chegando no seu estágio final, que são as células como conhecemos: Eritrócitos, Leucócitos e Plaquetas. Na leucemia, uma célula sanguínea que ainda não atingiu a maturidade sofre uma mutação genética, transformando-se em uma célula cancerígena. A mesma não funciona de forma adequada, multiplica-se mais rápido e tem um tempo de vida maior do que as demais, o que resulta na substituição das células saudáveis por células anormais.
Classificação
Podemos classificar as leucemias em diversos subtipos de acordo com a linhagem afetada, contudo é importante diferenciar a leucemia aguda da crônica, na qual a primeira tem o material medular com predominância de blastos ou de células com evidencias de diferenciação inicial, como é o caso da leucemia promielocítica aguda, na qual as células não podem exercer a mesma função das normais. Nesse caso o número de células anormais cresce de forma abrupta e a doença tem uma piora num curto intervalo de tempo. Nas leucemias crônicas, onde o infiltrado medular consiste em uma maior quantidade de células diferenciadas, no princípio as células leucêmicas até conseguem fazer o trabalho dos glóbulos brancos normais, porém se agrava à medida que elas aumentam, aparecendo ínguas nos linfonodos ou mesmo infecções.
Leucemia Mieloide Crônica (LMC)
Um subtipo de leucemia crônica é a Leucemia Mieloide Crônica (LMC) que afeta as células mieloides e tem seu processo de desenvolvimento lento. Geralmente as pessoas diagnosticadas com esse tipo de doença são adultos e dificilmente afetará criança, sendo a frequência deste tipo de leucemia de 1 em 1 milhão de crianças até os 10 anos. Em adultos, fica em torno de 1 em 100.000 indivíduos.
Ela é caracterizada pela presença de uma anormalidade genética que envolve os cromossomos de números 9 e 22, sendo uma alteração de causas desconhecidas. Entre os principais sintomas que fazem os pacientes a procurarem ajuda médica são cansaço, palidez, sudorese, perda de peso e desconforto do lado esquerdo do abdome, devido ao aumento do baço. A medida que LMC piora se torna mais complicado o seu controle, chamada de fase acelerada. Nela há um aumento ainda maior do baço e aumento de blastos (células imaturas). Depois a doença evolui para a fase blástica ou aguda, na qual predominam as células blásticas na medula óssea e no sangue.
Leucemia Mieloide Aguda (LMA)
Leucemia Mieloide Aguda (LMA) tem avanço rápido e atinge adultos e crianças. Caracteriza-se pelo crescimento descontrolado e exagerado das células indiferenciadas, chamadas “blastos”, de característica mieloide. Entre os principais sintomas relatos, pode ser destacar o cansaço e dispneia durante atividades físicas, palidez, sinais de sangramento como manchas na pele, sangramento nas mucosas, nariz e outros locais, além de febre, infecções e dores ósseas.
Leucemia Linfoide Aguda (LLA)
A Leucemia Linfoide Aguda (LLA) afeta as células linfoides, porém agrava de forma rápida. É comum em crianças de entre 3 e 5 anos, mas podem vir a ocorrer em adultos. Ela resulta na produção descontrolada de blastos de características linfoides e no bloqueio da produção normal de eritrócitos, leucócitos e plaquetas. Na maioria das vezes, sua causa não é evidente e seu desenvolvimento se dá a partir dos linfócitos primitivos, que podem se encontrar em diferentes estágios de desenvolvimento.
Os principais sinais e sintomas são cansaço, falta de ar, sinais de sangramento, infecções e febre. Além disso, podem ocorrer aumento de gânglios, inflamação dos testículos, vômitos e dor de cabeça, sugestivos de envolvimento do sistema nervoso.
Leucemia Não-Linfocítica
A leucemia não-linfocítica aguda ocorre em células de origem hematológica com mutação genética, que resulta em uma população monoclonal de células mieloides cuja capacidade de se diferenciarem não estão funcionais. Além disso, essas as células são extremamente proliferativas, dessa forma os blastos e outras formas iniciais substituem cada vez mais os elementos hematopoiéticos normais da medula.
Diagnóstico e Tratamento
O diagnóstico é feito através de análise das células em microscópio e a identificação dos blastos para LMA e uma grande proporção de glóbulos brancos maduros em comparação com os imaturos (blastos) para LMC. Esse material obtido deve ser submetido a técnica de imunofenotipagem e análise dos cromossomos (citogenética). Para LLA além de análises descritas acima, através da contagem de leucócitos pode avaliar a contagem inicial de glóbulos, as condições clínicas e o envolvimento ou não do sistema nervoso, testículos e gânglios. Caso seja necessário, pode-se avaliar o envolvimento do sistema nervoso através do estudo do líquido cefalorraquidiano (liquor).
De forma geral o tratamento é realizado com quimioterapia, sendo necessário que os pacientes sejam tratados assim que o diagnóstico é confirmado. O objetivo inicial é a remissão com restauração da produção normal das células sanguíneas, sendo feita uma combinação de diversas drogas para controle da doença. Para LMA as drogas utilizadas nesta fase são acitarabina ou Aracytin por 7 a 10 dias e a idarrubicina ou daunorrubicina. A necessidade de um tratamento pós remissão deve-se levar em conta a idade do paciente, condições clínicas e os resultados da citogenética, podendo variar em quantidade de doses de quimioterapia e a possibilidade do transplante de medula óssea.
Já para LMC o tratamento é feito pelos chamados inibidores de tirosino-quinase. O imatinibe foi o primeiro a ser aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Esse medicamento apresentou ótimas respostas hematológicas e citogenéticas, que até então só eram possíveis através do o transplante de medula óssea. É o padrão de tratamento e tem maior eficácia nas fases iniciais da doença, contudo seu efeito reduz quando a doença entra nas fases acelerada e blástica.
Em caso de fatores prognósticos desfavoráveis ou recidiva da doença, deve levar ao paciente tratamentos mais agressivos, nesse caso o transplante de medula óssea é uma boa opção. O mais importante em caso de suspeita é o diagnóstico precoce. Por sua causa ser genética ou desconhecida é imprescindível que o paciente faça os exames e detecte, pois, quanto mais rápido o início do tratamento maiores as chances de remissão e até cura.
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Bibliografia
1 – Anjos, A. R., & Alvares-silva, M. (2000). Matriz Extracelular e Leucemia, 22(3), 404–412.
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3 – Sociedade, L. (2014). Leucemia – Sociedade em risco.
4 – Inca – Instituto Nacional do Câncer. Disponível em:
Autor:
Allan Coura,
Biomédico – Diagno